23/10/2014
Em meio a fusões e aquisições, as operadoras brasileiras lidam com as regras de uma nova partida que começa a ser jogada. As receitas com voz, até então o carro-chefe, não param de cair. Serviços de dados são o grande filão, mas há aspectos regulatórios sensíveis postos à mesa.
E um deles foi escancarado no Futurecom 2014: as redes de fibra óptica vão ser, ou não, um bem reversível? Quem trouxe o assunto à tona foi o presidente da Telefônica/Vivo. Segundo ele, este é um ponto que precisa ser tratado o quanto antes. "Expandir redes se faz necessário, mas temos que saber as regras do jogo",pontuou.
Quem também apareceu com força foi o Big data. Estudar a massa de informações para criar novos serviços é ordem geral. Pela primeira vez, no Futurecom 2014, o Big data não foi um discurso de fornecedor. Grandes operadoras como TIM, Vivo e Oi assumiram que já formaram times especializados em análise dos dados para gerar novos serviços. E, aqui, mais uma vez, o Marco Civil da Internet preocupa. No Futurecom, as teles indicaram que a legislação - que ainda passará por regulamentação, em que os pontos mais polêmicos estão alocados, entre eles, o acesso patrocinado - pode restringir o uso do Big Data, particularmente com a crescente preocupação com a privacidade dos usuários.
“O texto [do Marco Civil da Internet] não representa o melhor para os envolvidos. Temos o desafio de combinar o uso dos aplicativos com o novo marco legal”, disse o presidente da Telefônica/Vivo, Antonio Carlos Valente. Além de reforçar a proteção à privacidade, a Lei 12.965/14 também exige que as operadoras sejam muito transparentes no uso das informações coletadas, de forma que amarra essa utilização em questões que precisam ser previamente estabelecidas.
O presidente da TIM, Rodrigo Abreu, ponderou que os fortes embates, especialmente no terreno da neutralidade de rede, poluíram a discussão de forma prejudicial à visão de longo prazo desejada na legislação. Ele sustentou, no entanto, que ainda é possível maior flexibilidade na regulamentação. “No caso da neutralidade de rede, houve uma discussão muito intensa, e as analogias foram usadas das mais variadas maneiras para defender uma conclusão ou outra. No fim, o compromisso poderia ser mais longevo, mas acabou não fechando as portas para o que ainda pode ser verificado no dia a dia".
Internet das Coisas
A questão regulatória tem razão de ser. O novo mantra das teles é aumentar, a qualquer custo, a rentabilidade dos serviços de dados. Pesquisa MAVAM, divulgada pela Acision, mostrou que as operadoras viram um crescimento positivo nas receitas advindas do SVA, gerando mais de R$ 4,36 bilhões (US$ 1.95 bilhão) em vendas líquidas e representando 30% da receita total das operadoras com serviços móveis, o que significa um crescimento de 22% sobre o mesmo período do ano passado.
O maior crescimento na receita de SVA veio da Internet móvel, responsável por 63% de todas as vendas líquidas de SVA no segundo trimestre deste ano, totalizando R$ 2,7 bilhões (US$ 1.23 bilhão), 31% a mais que no mesmo período do ano passado. O salto no uso da Internet móvel provavelmente se deve à rápida adoção dos smartphones.
Mas o estudo também apontou que a adoção dos serviços de OTT e de mensagem instantânea via mídia social teve um impacto negativo nas vendas líquidas de SMS, que caíram 6% no segundo trimestre de 2014 comparado com o mesmo período do ano passado, gerando R$ 1.09 bilhão (US$ 490 milhões) de receita. Hoje, 90% dos usuários de smartphone usam pela menos um aplicativo de mensagem instantânea ou OTT e, em média, os entrevistados tinham três aplicativos de mensagens, incluindo SMS. A inovação se faz necessária para mudar o rumo do jogo.
Nessa 'virada', as oportunidades de negócios com o M2M (machine-to-machine) animam as operadoras de telecomunicações e os fornecedores da tecnologia, mas ainda há, segundo eles, um tempo para que essas aplicações virem, de fato, comerciais e rentáveis. Talvez uma das vertentes mais avançadas de aplicação do M2M seja o que o mercado tem chamado de carro conectado. A BMW anunciou durante painel no Futurecom 2014 que está trazendo para o Brasil dois modelos de carros elétricos que ficam conectados à fábrica da companhia o tempo todo. Graças a esta conexão, a companhia pôde criar o BMW Teleservices. A Internet das coisas é, sem dúvida, um marco, mas será preciso um ajuste fino entre governo e mercado privado.
Marco Regulatório
Realizado às vésperas da eleição presidencial, o Futurecom 2014 teve a cautela como marca em temas considerados delicados. Mas ficou evidente que uma das primeiras demandas das operadoras de telecomunicações para o novo governo federal, seja de que partido for, será a revisão do marco regulatório das telecomunicações. Há um consenso entre as empresas do setor que a atual versão da legislação não atende mais às necessidades do mercado.
E isso não acontece por acaso. Quando foi criada, há 16 anos, a legislação atendia um setor que vendia serviços separadamente, ao contrário das redes e serviços convergentes existentes hoje. “Esta situação causa impedimentos, de investimentos, por exemplo”, disse Aloysio Chaves, da Telefônica Vivo. Carlos Eduardo Franco, da TIM, concorda com a necessidade de revisão e ressaltou que ela deve ser o mais democrática possível.“Esta discussão não pode envolver somente as concessionárias, mas todos os players, independentemente do tipo de outorga ou porte que ele tenha”, disse.
Já Renato Paschoareli, da Algar Telecom, defende a revisão, mas aposta na possibilidade de um mercado mais pulverizado. “A nova regulação deve considerar a possibilidade de competição sem a necessidade de consolidação, reforçando as assimetrias regulatórias”, completou.
A situação da Oi - e como ficará o cenário daqui pra frente no mercado nacional - mobilizou os atores do setor. O presidente da Anatel, João Rezende, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, revelaram preocupação com a instabilidade e a queda da qualidade na oferta dos serviços. O novo CEO da Oi, Bayard Gontijo, se apresentou no evento e deixou claro que 'arrumar a casa' é a prioridade do momento. "Mas não estamos fora do jogo", garantiu. Agora é aguardar os próximos lances.
Fonte: Ana Paula Lobo - Convergência Digital
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