20/03/2015
Com quase dois anos de presença no Brasil, a tecnologia 4G está longe de atingir a maioria dos usuá- rios que acessa a internet por um dispositivo móvel.
Segundo dados da Anatel, em janeiro de 2015, apenas 5% dos acessos de banda larga móvel feitos no país--7,75milhões do totalde148,83milhões-- usam a rede que proporciona velocidade nominal de conexão de até 100 Mbps (Megabits por segundo).
Especialistas da área de telecomunicações apontam os altos preçosdossmartphones adaptados aopadrão e a falta de investimento em infraestrutura como os principais motivos da baixa representatividade.
Isso porque não basta que a tecnologia seja habilitada pelas operadoras na região em que o consumidor faz uso da internet móvel --é preciso ter um telefone que possa operar com esta tecnologia, e esses modelos ainda pesam no bolso do usuário. "Esses aparelhos ainda custam muito caro e inviabilizam a expansão no uso da tecnologia", afirma Eduardo Tude, da consultoria de telecomunicações Teleco.
A indústria tem dado passos para tentar mudar esta tendência em 2015, como é possívelse notar no lan- çamentos de smartphones de entrada com 4G, como o Moto E, da Motorola. "Com esse barateamento, a expectativa é que o uso da tecnologia cresça consideravelmente no país neste ano", diz Georgia Jordan, analista de telecomunicação daFrost &Sullivan.
Levantamento da Anatel mostra que existem no mundo cerca de 400 equipamentos com tecnologia LTE que permite a conexão ao 4G, alguns deles já vendidos no Brasil.
Custo dos planos 4G também atrapalha aumento no uso Outra restrição que colabora para afastar o usuário do 4G é o preço dos planos oferecidos pelas operadoras de telefonia celular. Asopçõesquepermitemo uso da rede 4G geralmente são mais caras e não estão tem a mesma cobertura em relação àoferta padrão, que ainda usa a rede 3G.
É por isso que, João Carlos Lopes, professor de engenharia de computação do Instituto Mauá de Tecnologia, recomenda que os usuários se certifiquem da existência de sinal do padrão nos locais em que mais usa o dispositivo antes mesmo do investimento. "Ébem comumo usuáriocomprar o aparelho, assinar o plano e ainda assimnão ter acesso à rede 4G, já que nos locais em que faz o uso da internet móvel a cobertura não está disponível."
Todas as operadoras, assim como a Anatel, disponibilizam em seus respectivossites a extensão territorial da cobertura 4G. Além disso,segundo Lopes, há aplicativos que podem auxiliar os usuários a identificarem os locais das redes, bem como o tipo de conexão disponível na região em que o usuário estiver.
Rede 4G cobre 41,8% da população brasileira
Apesar do uso do 4G ainda ser pequeno, Tude ressalta a extensão da rede no Brasil. "Atualmente, todos os municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes estão adaptados à tecnologia. Ou seja, 147 municípios, incluindo todas as capitais, contam com o serviço. Isso significa que 41,8% da população poderia usar o 4G".
Para Tude, isso faz com que o Brasil esteja está bem próximo da realidade internacional em termos de cobertura. "A rede 4G na Coreia do Sul atinge 63% da população.Já o alcance nos EUA é de 45%. O Brasil está à frente de países da Europa Ocidental, ondeo índice gira em tornode15%", cita. "O que édesigual éo preço dos aparelhos."
A previsão, segundo acordo estabelecido entre a Anatel e as prestadoras de serviço --Claro, Oi, Tim e Vivo--, é de que os serviços de tecnologia 4G sejam universalizados de forma gradativa até 2017.
Até 31 de dezembro de 2015, o padrão deve ser implementado em todas as cidades com mais de 200mil habitantes. Os municípios com mais de 100 mil habitantesserão atendidas até 31 de dezembro de 2016. Já as cidades com mais de 30 mil habitantes devem ser beneficiadas até 31 de dezembro de 2017.
A disponibilidade da tecnologia, no entanto,nãoégarantia de qualidade, segundo o presidente da AET (Associação dos Engenheiros de Telecomunicações), Coriolano SilveiradaMota. "O 4G no Brasil tem funcionado muito baixo da sua potencialidade. As operadoras estão reaproveitando a infraestrutura existente, que funciona bem para o 2G e até para o 3G, mas que não foram feitas para o 4G", relata ele.
Por falta de opção, segundo ele, as empresas tiveram que investir em novas antenas que operamna faixa de 2,5 GHz --frequência reservada pelo governo brasileiro para esse tipo de comunicação, que é diferente da3G. Aindaassimforam mantidos os mini-linkssistema que liga uma torre de um lado ao outro. "Enquanto não houver a substituição por fibra ótica, que requer investimento, o sistema continuará capengo", disse Mota, que relaciona a falta de infraestrutura com a instabilidade do sistema.
Instabilidade que,de acordo com Lopes,inviabiliza a garantia de acesso à rede de alta velocidade 24 horas por dia e em qualquer lugar. "Não é possível aumentar o sinal com soluções caseiras. A qualidade da conexão está relacionada diretamente à distância do usuário com a antena 4G. Quanto mais próximo estiver dela,melhor é conexão", afirmao professor, que explica que o alcance das antenas 4G é menor. "Para uma antena 3G são necessários de 3 a 5 torres 4G. Nas grandes cidades falta espaço para tanta infraestrutura."
Em resposta às críticas, o Sinditelebrasil, órgão que representa as empresas de telecomunicações, disse que "as prestadoras de telefonia móvel investem constantemente na expansão de suas redes, ampliação da cobertura e capacidade e na melhoria da qualidade dos serviços". "Especialmente nos serviços de 4G, esses investimentos podem ser comprovados pelo número de cidades atendidas, que é três vezes maior que a meta definida pelo órgão regulador", apontou a nota.
Incompatibilidade no exterior
Outro ponto negativo da rede 4G brasileira, como relata Mota, é a incompatibilidade com outros países, entre eles os Estados Unidos. No Brasil, o serviço é prestado na faixa de frequência de 2.500 Mghz. "A maioria dos países usadasfaixas que vão de 1,8 GHz a2,1GHz.Já os EstadosUnidos, por exemplo,usama faixa de 700 MHz. Há apenas dois países asiáticos compatíveis com a frequência adotada no Brasil", aponta ele.
Diante da incompatibilidade, é preciso tomar cuidado ao comprar umsmartphone 4G no exterior. Antes de concretizar a compra, certifique-se que o aparelho pode ser usado na frequência 2.500 Mghz. Caso contrário, no Brasil, o dispositivo estará limitado ao uso do 3G. Vale lembrar também que um aparelho comprado aqui no país não conseguirá conectar o 4G no exterior.
A sugestão da AET é que o setor de telecomunicação migre os usuários da tecnologia 2G para a 3G, para permitir que a frequências 800 MHz, 900 MHz e 1.800 MHz sejam ocupados pelo padrão 4G.
Fonte: Larissa Leiros Baroni - UOL Notícias
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