30/06/2015
O consumo de dados e vídeos que trafegam nas redes de telecomunicações mais do que dobra a cada ano. A banda larga móvel no Brasil tem avançado cm ritmo três vezes mais rápido que o crescimento mundial. Nesse cenário, o investimento em infraestrutura de rede não é opcional para as operadoras.
A desaceleração da atividade econômica, os investimentos já feitos pelas empresas antes da Copa do Mundo e a aquisição de frequências para a operação da rede 4G no ano passado sinalizam para uma queda no volume dessas aplicações nos próximos dois anos. Historicamente as operadoras investem 20% de seu faturamento na infraestrutura de rede para fazer frente ao aumento do tráfego de dados, afirma Eduardo Levy Cardoso Moreira, presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil ).
"As operadoras continuam reforçando as redes 3G, 4G e se preparando para a futura 5G para ficar dentro do jogo da oferta de serviços cada vez mais velozes, empurradas pela demanda dos usuários", destaca Renato Pasquini, diretor de tecnologia da informação e comunicação da Frost & Sullivan. A explosão no uso do smartphone como principal dispositivo de computação pressiona a balança comercial e vai obrigar a mais estímulos à indústria nacional para aumentar a oferta de produtos no Brasil. "As empresas terão menos fôlego financeiro para bancar subsídios aos aparelhos e de vem focar mais em serviços pós-pagos", afirma.
Outra consequência da desaceleração econômica é que as operadoras vão investir menos em cidades que estão fora das obrigações firmadas com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel ). A alta do dólar também pressiona o custo dos serviços. "O desafio é não diminuir, mas manter o investimento e ter entregas mais eficientes de serviços", afirma Leonardo Capdeville, chief technology officer (CTO) da TIM. A estratégia da operadora, de acordo com ele, inclui uma nova abordagem de negociação com os fornecedores e dos custos internos para reduzir o impacto da inflação. A companhia planejou R$ 14 bilhões no triênio entre 2015 e 2017, absorvendo a defasagem cambial."No primeiro trimestre, aplicamos 51% a mais que o mesmo período do ano passado e diminuímos 5% nos custos."
Do ponto de vista macroeconômico, a queda no Produto Interno Bruto (PIB) diminui o consumo, mas, paradoxalmente, as operadoras de telecomunicações são menos afetadas do que outros segmentos, consequência da necessidade de pessoas e empresas estarem mais conectadas, avalia Mareia Ogawa, responsável pelas de analytics da Deloitte no Brasil.
Os serviços de vídeo serão a principal alavanca para a multiplicação do tráfego IP nos próximos anos. Em 2014, no mundo, o vídeo era responsável por 67% do tráfego; em 2019, será 80%, segundo estudo da Cisco. No Brasil, o uso do vídeo deve ser ainda mais intenso, passando de 68% do tráfego recente para 84% em cinco anos. A maior parte desse conteúdo não virá apenas dos serviços de vídeo sob demanda, como YouTube ou Netflix, mas também de sistemas de vigilância, transmissões em tempo real e videoconferência. "A explosão do tráfego vai exigir um investimento equivalente ao que foi realizado nos últimos 15 anos pelas operadoras de telecomunicações, pressionando a mudança do modelo para remunerar a rede de forma mais eficiente", afirma Solange Carvalho, diretora da Deloitte para o atendimento à indústria de tecnologia, mídia e telecomunicações. Apesar da queda no poder aquisitivo da população, as pessoas continuam consumindo cada vez mais dados e têm mais necessidade de se conectar à internet.
No mundo, segundo a estimativa da Cisco, serão 3,9 bilhões de usuários da internet em 2019 - no fim de 2014 eram 2,8 bilhões. Os dispositivos vão chegar a 24,4 bilhões - ante 14,2 bilhões atualmente. No Brasil, o número de pessoas com acesso à web passará de 88 milhões, no final do ano passado, para 134 milhões em cinco anos.
A rentabilidade sustentável da rede impõe uma revisão do planejamento e operação da infraestrutura, incluindo o arcabouço regulatório e a parte fiscal. Um caminho para a evolução do modelo de fazer mais com menos é a implantação das chamadas small cells na telefonia celular. São antenas menores, com maior capacidade e que proporcionam maior cobertura. A TIM deve implantar um total de mil small cells ainda neste ano e em tomo de 3,5 mil até 2017. "O usuário busca melhor experiência com dados, pressionando por qualidade do serviço, o que direciona o rumo dos investimentos nos próximos três anos", afirma Capdeville.
A empresa acelerou os planos de cobertura e reforçou investimentos de curto e longo prazos, incluindo a aquisição de frequências de 700 MHz, por R$ 3 bilhões, que serão usadas nos próximos quatro anos para as redes 4G e 5G. De acordo com Capdeville, o foco da TIM é o mundo de dados nas redes 3G e 4G e também no transporte de vídeo com fibra óptica para suportar a massa de informações dos próximos anos. "Parte considerável desses investimentos está ligada à inovação, como a implantação das small cells." A empresa também foca o mercado corporativo com conectividade com fibra óptica e serviços baseados em nuvem. O plano trienal prevê investimentos de R$ 14 bilhões em toda a rede, principalmente na ampliação das coberturas 4G e 3G, em linha com o crescimento esperado da demanda por tráfego de dados.
A crise econômica faz com que as operadoras capturem outras oportunidades de negócio, como os projetos de telepresença, telemedicina, educação e gestão de conteúdo, entre outros. Para o presidente da Cisco, Rodrigo Dienstmann, a banda larga móvel e o aumento do tráfego de vídeo exigem mudanças na natureza dos investimentos, passando do núcleo da rede para o acesso em fibra óptica nas empresas e residências, e investimentos em 3G e 4G para serviços de vídeo on demand. "Acrescente a isso a internet das coisas, onde bilhões de sensores e dispositivos estarão conectados na rede, aumentando o tráfego de forma intensa e exigindo cada vez mais recursos das operadoras", afirma Dienstmann.
A Claro destinou cerca de R$ 6,3 bilhões nos dois últimos anos, principalmente na expansão da rede. "Mesmo diante da previsão de retração do mercado, continuamos com expectativas positivas para 2015", afirma André Sarcinelli, diretor de engenharia da empresa. O Grupo América Móvil anunciou investimentos de cerca de RS 8 bilhões neste ano entre a Claro, Net e Embratel. No primeiro semestre, a operadora apostou em novos serviços com a reformulação do portfólio de planos, oferta de mais pacote de dados nos segmentos pós-pago, pré-pago e controle, e é patrocinadora dos Jogos Olímpicos Rio 2016, além de fornecedora oficial, na categoria telecomunicações, em parceria com a Embratel. Para a Copa do Mundo, de acordo com Sarcinelli, a empresa investiu mais de R$ 300 milhões, no ano que antecedeu o evento, nas 12 cidades-sede e subsedes em infraestrutura de redes.
No mercado corporativo, as redes terão de dar suporte à conexão entre sensores (a chamada internet das coisas), à impressão 3D e aos computadores vestíveis. O crescimento do tráfego é exponencial, tanto nas redes móveis quanto nas fixas, alavancado pelas aplicações de vídeo e pelos chamados serviços over the top (OTT), como as redes sociais, Skype e de mensagens instantâneas como o WhatsApp, entre outros. "Isso implica investimentos cada vez maiores, que precisam ser remunerados adequadamente para garantir um crescimento sustentável", afirma Carlos Raimar Schoeninger, diretor de estratégia da Telefônica Vivo. Para ele, a rede deve garantir a neutralidade do tráfego c também permitir novos modelos de negócios para possibilitar um gerenciamento eficaz. "A Telefônica continua investindo em infraestrutura para atender o ritmo de crescimento comercial registrado nos últimos anos, sobretudo no segmento de dados." A empresa concluiu em 2014 o plano de investimentos iniciado em 2011, totalizando R$ 27 bilhões, incluindo os custos das licenças para o 4G. No primeiro trimestre, foi aplicado R$ 13 bilhão na ampliação da infraestrutura de cobertura e melhora na qualidade de serviços. O montante foi 26,8% superior ao investimento realizado no primeiro trimestre do ano passado e representou 14,1% da receita operacional líquida do período, segundo a empresa.
Fonte: Ana Luiza Mahlmeister - Valor Econômico
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