05/10/2015
BRASIL MELHORAEMACESSOÀ INTERNET E ENFRENTA DESAFIO DE USAR INCLUSÃO DIGITAL PARA AVANÇAR EM OUTRAS ÁREAS
Buscas em décimos de segundo, envio e pagamento do Imposto de Renda, solicitação de seguro- desemprego, inscrições no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem)...
Inúmeras coisas essenciais para a vida cotidiana só podem ser feitas pela internet. Há muito tempo não se pode dizer mais que "um país se faz com homens e livros", como sentenciou Monteiro Lobato na obra "América", publicada em 1932. No século XXI, não se faz um pais sem computadores, tablets, celulares... "Mergulhar na cultura letrada implica hoje aprender a transitar por vários suportes tecnológicos simultaneamente", escreveu o linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná. Não por acaso, desde 2011 a Organização das Nações Unidas considera acesso à internet uma questão de direitos humanos- o que significa tanto poder navegar livremente quanto dispor de infraestrutura adequada (cabos, computadores ou dispositivos móveis, modems e softwares).
Para um país em desenvolvimento como o Brasil, isso implica um duplo desafio. O combate à desigualdade de oportunidades na educação - apenas 7 das 100 escolas mais bem colocadas no Enem são públicas, por exemplo - terá de ocorrer simultaneamente à superação do fosso digital. "É certo que a pobreza e o analfabetismo se constituem como problemas que precisam ser sanados com urgência Mesmo assim, não há como pensar a exclusão digital em segundo plano, visto que o desenvolvimento das tecnologias se dá cada vez mais rapidamente e o abismo existente entre incluídos e excluídos tende a aumentar", observa o pesquisador André Lemos no livro "Cidade Digital" (Editora UFBA).
EXPANSÃO
A proporção de brasileiros que frequentam a internet saltou mais de 60% nos últimos sete anos, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), um braço do Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Os dados mais recentes, de 2014, mostram que 55% dos habitantes com mais de 10 anos acessam a rede. São 94,2 milhões de pessoas, um contingente maior que a população da Alemanha. Esse avanço, porém, omite as discrepâncias entre classes socioeconômicas. Na classe A, o alcance é quase universal (96%); na D/E, é de 21%. O Mapa da Inclusão Digital, feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, escancara as diferenças demodobem concreto; na Barra da Tijuca, uma das localidades mais ricas do País, 94% das pessoas estão conectadas à internet, número similar aos de Suécia e Islândia. Logo ao lado, na favela Rio das Pedras, apenas 21% dos moradores são internautas, o menor índice da cidade do Rio de Janeiro. A exclusão digital é, frequentemente, companheira da exclusão social. Abordar os problemas simultaneamente encurta o caminho da inclusão. E o universo digital é especialmente propício a estratégias assim.
"A tecnologia écomo aeducação: permite queas pessoas saiam da pobreza por elas mesmas... E uma ferramenta, nãouma consequência, do crescimento edo desenvolvimento", apontavaumrelatório de 2001 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). "As políticas públicas podem aproveitar as novas tecnologias para melhorar as condições de vida da população e dos mais pobres.
A luta contra a exclusão digital visa sobretudo encontrar caminhos que diminuam seu impacto negativo sobre a distribuição de riqueza e oportunidades", afirmam o professor de sociologia da UFRJ Bernardo Soij e o pesquisador do Favela, Opinião e Mercado Luís Eduardo Guedes em artigo para a prestigiada revista "Novos Estudos", do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O cardápiodepobticas nessa área, portanto, tende a unir introdução de equipamentos (telecentros, lan-houses, salas de computadores nas escolas ou em centros comunitários) a cursos que usem os dispositivos para produção de conteúdo cultural, capacitação para serviços em informática e, eventualmente, desenvolvimento de ferramentas digitais.
DESAFIOS
Estratégias desse tipo requerem, porém, superar gargalos tecnológicos que impedem não só o acesso, mas que este aconteça com qualidade. Não adianta apenas conectar-se à rede - esta tem de ser capaz defazer circular os mais diversos tiposdeobjetos (textos, fotos, filmes) em velocidade compatível. Para se ter uma ideia do impacto econômico proporcionado pelo acesso à internet, uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) calculou que um aumento de 10% na penetração de banda larga na América Latina estaria associado a um incremento de 3,19% no PIB e de 2,5% no índice de produtividade, e à geração de 67 mil empregos. Em comparação com os países da América Latina, o Brasil não faz feio. Segundo um ranking elaborado pelo BID, a qualidade da infraestrutura brasileira é a quarta melhor da região fica atrás de Panamá, Barbados e Chile. Mas o quadro muda quando a comparação é feita com nações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por mercados avançados.
Numa lista de 63 países, o Brasil ficou em 30-?. Enquanto no País a velocidade média é de 5,5 Mbps (a terceira mais veloz da América Latina), na OCDE é de17 Mbps.Aentradados smartphones deupeso ainda maior à infraestrutura; eles podem ser mais baratos que um notebook ou um PC, mas dependem inteiramente da qualidade do serviço das concessionárias de telefonia móvel. Por dez anos, o governo federal isentou esses produtos de PIS e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), e chegou a usar o argumento de que a medida contribuía para a inclusão digital Contudo, a crise fiscal fez o governo voltar atrás. Alíquotas de 3,65% a 9,25% serão cobradas a partir de dezembro.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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