14/11/2015
Maior acesso da população a bens de consumo não se refletiu na oferta de serviços básicos.
A agricultora Lucimar Alves, de 57 anos, vive no povoado 28 de Agosto, zona rural de Teresina, há dez anos. Nunca teve água encanada.
O marido, Antônio Teixeira, gasta R$ 350 todos os meses para buscar, em uma carroçapuxada por jumento,água deumchafariz distante dois quilômetros de onde moram. Mais fácil e barato é falar com o filho que vive em São Paulo, já que o casal tem celular pré-pago e o gasto mensal com créditos não passa de R$ 65. A família exemplifica uma realidade revelada pelos dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad): enquanto dez milhões de lares brasileiros não tinham água encanada em 2014, apenas 4,38 milhões não contavam com telefone.
Para o economista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) José Carlos Cavalcanti, essa realidade reflete a complexidade da desigualdade brasileira:
-Houveuma democratizaçãodo acessoabens queantes eram luxo e hoje não são mais, enquanto outros fundamentais, como água encanada e rede de esgoto, ainda não aconteceram. Isso é parte de um passado que não resolvemos.
Avanço tímido em um ano
Napassagem de2013 para 2014, a proporção delares atendidos pelos quatro serviços que influenciam diretamente na qualidade de vida da população ficou estável. Em 2014, 85,4% das famílias tinham água encanada (em 2013 eram 85%), 63,5% contavam com rede coletora de esgoto (um ano antes eram 63,4%), a coleta de lixo atendia 89,8% das famílias (em 2013 eram 89,4%) e 99,7% de lares contavam com energia elétrica (ante os 99,6% do ano anterior). Em números absolutos, a cobertura dos quatro serviços aumentou cerca de 3% na passagem de um ano para o outro.
- São avanços muito tímidos diante do desafio de levar esses serviços a todos os brasileiros. Epior do que o investimento ser pequeno é a irregularidade. Estamos avançando onde ele já é bom e deixando de investir onde ele é ruim. Os avanços no Sudeste e em alguns estados do Nordeste vêm puxando os índices nacionais, mas ainda é preciso avançar no Norte eem mais estados do Nordeste - avalia o presidente- executívo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
Para o professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília Oscar Netto, dentre esses indicadores, a falta de saneamento é o mais grave, pelos problemas associados:
- Há casas em áreas de risco, perigosas de se morar e de difícil acesso nas quais é quase impossível instalar a rede de esgoto. Soma-se a isso o problema de gestão das prefeituras. Muitas vezes elas nem instalam a rede, porque se cria um outro problema: achar uma solução para o destino desse material. Tem de ser feito uminvestimento casado por meio deumprojeto bem feito ebem estruturado.O próprio governo federal só financia investimento casado.
As regiões Norte (21,2%), Nordeste (41,1%), Centro- Oeste (46,5%) e Sul (61,9%) permaneceram com percentuais de domicílios com acesso à rede coletora de esgoto inferior à média nacional, que é de 63,5%; enquanto a Região Sudeste continuou com cobertura desse serviço, com 87,7% dos lares atendidos.
Procurado para comentar os dados, o Ministério das Cidades informou, por meio de nota, ter investido R$ 59,5 bilhões em obras de esgotamento sanitário, saneamento e abastecimento de água de 2010 até o ano passado. O investimento em saneamento e esgoto caiu deR$4,16 bilhões em 2010 para R$3,16 bilhões em 2014. Para o presidente-executivo do Trata Brasil, a tendência é que a recessão reduza ainda mais esse gasto:
- Quando o cenário éruim, projetos deixamdeser elaborados porque não haverá recursos para se captar no mercado. O Brasil vinha num esforço grande com o PAC,e agora a sinalização é a de que o dinheiro ficará só para obras em andamento.
Já a proporção de lares com algum tipo de telefone, em 2014, foi de 93,5%, representando um total de 62,7 milhões de unidades domiciliares.A maior parte (37,75 milhões) só tem celular. Entre 2013 e 2014, enquanto o número de domicílios somente com celular cresceu 7,4%, o de só com fixo caiu 10,6%.
E, pela primeira vez em dez anos, caiu a proporção de lares com microcomputador ou notebook (48,5%) e com microcomputador ou notebook com acesso à internet (42,1%)queda de 0,3 ponto percentual em ambos os casos, na comparação com 2013. A diminuição mostrada pela Pnad interrompe um crescimento que vinha a passos largos desde 2004.
Para Luiz Moncau, pesquisador e cogestor do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getulio Vargas do Rio, estes dados mostram que o celular, além de já ter substituído a telefonia fixa, pode vir a ocupar o espaço da internet fixa:
- Cada vez mais as pessoas estão andando com a internet nas mãos. É uma questão de praticidade. Mas, como são tecnologias diferentes, você talvez não tenha a mesma qualidade, já que a internet móvel está sujeita a oscilações e interferência de antenas. Fonte: Daiane Costa, Efrém Ribeiro, Cassla Almeida e Lucianne Carneiro - O Globo Online
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