01/07/2014
A dez dias da final do Mundial, é possível listar pelo menos dez momentos que fazem desta a minha "Copa das Copas". Cenas que vivi como jornalista, participando da cobertura do evento, e como brasileira que sempre acreditou que ia ter Copa e ia ser lindo e sofrido ver o Brasil disputar o hexacampeonato em casa.
Deixo para os cronistas esportivos as análises sobre os golaços do colombiano James Rodríguez e do holandês Van Persie, o medíocre meio de campo da seleção brasileira, compensado pelo talento e carisma de Neymar, e a mordida do uruguaio Luis Suárez no italiano Giorgio Chiellini.
Lances da grande história do futebol que se cruzam com a minha "pequena história". A seguir, em dez atos, um olhar bem particular sobre o maior evento esportivo do planeta em terras brasileiras.
PRIMEIRO ATO
Cantar o hino nacional a capela em um estádio lotado. Mesmo que depois a emoção seja substituída pela indignação de ver gente que estufou o peito para cantar "dos filhos deste solo és mãe gentil/" se esquecer da boa educação e mandar a presidente Dilma Rousseff tomar naquele lugar em transmissão ao vivo para o mundo inteiro.
SEGUNDO ATO
Desmascarar, com muito bom humor, um brasileiro com a camisa da seleção argentina se passando por um "hermano" para se dar bem com as "minas". O rapaz gasta todo o seu "portunhol" ("pero que sí, pero que no") mal ensaiado em uma cena que se tornou clássica na Vila Madalena, em São Paulo, point de badalação da Copa.
TERCEIRO ATO
Voltar de metrô do Itaquerão cantando com dois mexicanos o refrão Ay, ay, au, ay/ Canta y no llores/ Porque cantando se alegran/ Cielito lindo, los corazones, um clássico da torcida para embalar a aguerrida seleção do México. A simpática dupla, de sombrero gigante e garrafa de tequila em mãos, é capaz de fazer mais barulho que um vagão inteiro lotado de uruguaios, logo depois da vitória da Celeste sobre a Inglaterra, ainda na primeira fase do Mundial.
QUARTO ATO
Embarcar para ver o jogo do Brasil x Camarões em Brasília sem atrasos na partida nem na chegada, com a sensação de chegar em aeroporto de "primeiro mundo". Pegar a mala em 15 minutos nas novas esteiras do Juscelino Kubitschek, em meio a uma babel divertida de torcedores dos quatro cantos do mundo. E o melhor: ver enterrado o indefectível bordão mais repetido dos últimos 12 meses: "Imagina na Copa".
E no voo de volta para São Paulo sentar ao lado de um americano, que tirou férias para acompanhar a primeira fase do Mundial e voltava pra casa, em Nova York, com a memória do celular lotada de imagens que resumem a sua Copa no Brasil: o sorriso do vendedor de água de coco em Natal, o teatro Amazonas, em Manaus, a catedral de Brasília e o colorido das torcidas em cinco jogos em quatro arenas diferentes.
QUINTO ATO
Fazer uma selfie com a seleção brasileira entrando em campo e postar diretamente do estádio. Jogar no mundo, via redes sociais, um dos 10 milhões de autorretratos tirados nas 12 arenas na primeira fase do Mundial. E torcer para ter o privilégio de estar novamente bem na foto na final no Maracanã. Afinal, na "Copa das Selfies", famosos e anônimos lotam seus perfis no Instagram com suas imagens instantâneas com a hashtag #vaitercopa.
SEXTO ATO
Ver uma madame de salto alto levar uma descompostura no banheiro do Mané Garrincha, limpo e sem fila, ao reclamar do custo do estádio e de corrupção nas obras da Copa: "Tá aqui na área VIP, não pagou pelo ingresso, não enfrentou fila para fazer xixi e vem dar uma de brasileira indignada? Vai ver o jogo em casa, minha senhora. Me poupe", retrucou uma jovem para deleite da plateia que retocava o batom.
SÉTIMO ATO
Acompanhar a execução de "A Marselhesa", antes das partidas da multiétnica seleção francesa. Enquanto alguns jogadores oriundos de ex-colônias africanas cantam a plenos pulmões versos como "Avante, filhos da Pátria/ O dia de glória chegou.... Marchemos, marchemos!/ Que um sangue impuro/ Ague o nosso arado", o argelino Benzema oferece seu silêncio eloquente durante a execução do hino francês.
OITAVO ATO
Fazer um paparazzo do príncipe Harry, enquanto sua alteza real degusta uma "baby beef" em um restaurante e comprovar que o caçulinha ruivo de Diana e Charles é mais simpático do que sobrinho "baby George".
Ainda na linha "celebridades internacionais na Copa", ter de ficar na cola de Leonardo Di Caprio na abertura do Mundial na vã esperança de entrevistar novamente o astro de Hollywood e pedir para ele cantar o refrão de "Taj Mahal", de Jorge Ben Jor, uma de suas canções brasileiras preferidas. A cena que vivi no hotel Bel-Air em Los Angeles, durante uma entrevista exclusiva com o ator na época do lançamento de "O Aviador", infelizmente não se repetiu à entrada do camarote Bossa Nova no Itaquerão. Agruras de uma repórter sem pulseira VIP.
NONO ATO
Aplaudir do sofá de casa ou ao vivo nas arenas o espetáculo da radiografia de corpos esculpidos dos jogadores das oito seleções que disputam a Copa a bordo de uniformes com tecnologia "slim fit". As camisas justinhas de seleções como Uruguai, Gana, Suíça e Argélia se converteram em espetáculo à parte, graças a uma inovação que atende pela sigla ACTV ("active"). Traduzindo: o tecido com faixas de silicone se cola ao músculo massageando-o e economizando energia. Enfim, melhoram a performance do atleta. Alguém duvida dos benefícios estéticos?
DÉCIMO ATO
Vibrar com cada golaço de Neymar e torcer para que Bruna Marquezine esteja tratando bem o garoto para fazer dele o artilheiro do Brasil e da Copa. E de quebra acompanhar a empolgação dos meus dois afilhados, João Pedro e Sofia, ambos de 10 anos, antes, durante e depois de assistir in loco a um jogo da seleção brasileira numa Copa do Mundo no Brasil.
Um daqueles momentos memoráveis que eles vão levar pela vida e repetirão para os netos: "Eu estava lá".
Fonte: Eliane Trindade - Folha
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